terça-feira, 28 de agosto de 2012

O dia em que fui a esposa traída

Novembro de 2011. Eu estava em frangalhos, e Deus me pediu apenas a disposição e o amor. Pra quê?
Simples: pra interpretar um dos papeis mais difíceis que já peguei no grupo de teatro Intérpretes da Verdade.
Taí o resultado:


Eu aprendi que acreditar em Deus vale à pena. Quando foi isso? Não sei dizer uma data específica, mas posso afirmar que foi no momento em que Ele me levou à sala de espera da vida.
Com o tempo, percebi que tudo o que acontecia em minha vida apontava para Deus, e foi assim, por meio de angústias, medos, decepções, mágoas, leituras de livros, convivência com amigos do coração e, principalmente, da leitura da Palavra de Deus que comecei a ouvir a Sua voz de forma mais clara. Em Outubro de 2011, Ele fez algo incrível por mim: me pediu uma prova de fé, vendou os meus olhos e pediu que eu seguisse por um caminho desconhecido. Para uma jovem de 21 anos, parecia uma grande aventura... e eu mal podia imaginar que minha vida mudaria radicalmente.
Deus colocou na minha vida uma mulher incrível, que se apresentou como peça essencial nesse quebra-cabeça que tentava construir: Mara. Cristã, casada, mãe e esposa. Segura de suas funções e seu modo de vida... até chegar à sala de espera. O que a levou até lá? A traição.
Por meio do Ministério Intérpretes da Verdade, Deus me concedeu a honra de interpretar a vida de milhares de mulheres resumidas em uma só. Foi Mara, a amarga, que me conduziu a intensos questionamentos: A despeito de minhas funções (mãe, esposa, etc.) e modo de vida, quem sou eu? De onde vim? Por qual motivo estou aqui? O que devo fazer agora? O que é essa sala de espera afinal?
Mara fora traída pelo marido, depois de mais de 20 anos de matrimônio. Mas não havia sido a traição do marido que a levaria até aquele lugar. Ela se sentia traída pela vida, e pelo próprio Deus! Como uma mulher tão boa, fiel e eficaz em suas tarefas poderia passar por isso?
Mara perdeu a fé em si mesma e deixou-se afundar em um abismo frio e sombrio, o qual apontou a ela seus piores medos e defeitos. Ali, ela se sentiu fracassada!

(A preparação)

Durante os dias de ensaio, foi necessário despir-me de mim mesma para assumir a personalidade de milhares de mulheres que se encontraram ou se encontram na mesma situação.
Traição é semelhante a um punhal: quando cravado no corpo, rompe ligamentos e causa profundas feridas, além de hemorragia interna. Traição dentro do casamento é ainda pior. Ao conversar com mulheres que já haviam passado por isso, pude notar que a ferida diz muito mais a respeito de si mesma do que a respeito da pessoa que traiu.
“Não fui suficiente como mulher”. Essa é a sensação que todas têm em comum. Não se trata apenas do ato em si, mas do que o adultério pode causar em alguém. Foi preciso que eu saísse do meu mundo e entrasse em outra atmosfera, na qual eu era intrusa e cada um dos meus movimentos precisava ser calculado, para não tocar onde era frágil de mais, porém era preciso extrair algo da situação, que pudesse dar vida à personagem.
Pedi a Deus que usasse todo meu corpo para aquela interpretação. Eu coloquei no meu coração a responsabilidade de tratar aquele assunto com todos os méritos e todo respeito que merece, e acho que foi nesse momento que entendi o que é o teatro pra mim: é a vida real, transformada em história.
Encenar Mara talvez tenha sido meu maior desafio no Intérpretes da Verdade, pois estava sobre mim o dever de contar a história do coração, aquele que se doa, se dói, de despedaça e se entrega por amor... e recebe, como recompensa, a decepção e a rejeição. Consegue sentir a bagagem emocional e espiritual que a personagem Mara carrega?
Analisando toda essa descrição, posso afirmar que o resultado final é todo mérito de Deus. Eu, uma jovem de 21 anos, que pouco sabe da vida, nada poderia contribuir para a peça. Mas, consciente de minhas limitações, pedi a Deus que fizesse a obra por mim.

(O resultado)

Mara chegou ao fundo de um poço sujo, podre e que levava à morte: o fim da esperança. Por ser tão confiante do que podia fazer, ela esqueceu-se de quem era e por quem vivia. Foi levada à sala de espera para que aprendesse a lidar com a dor e chegasse ao ponto de desistir. Nesse momento, o amor de Cristo, aquele que deu tudo de si por nós, e por nós, é diariamente traído, se apresentou a ela como luz, bálsamo curador e esperança.
Na escuridão de sua alma, ela foi inundada pela luz do amor. Descobriu que o amor humano não é suficiente e que a sala de espera não era apenas o fundo do poço. Ou melhor, a sala de espera envolve o fundo do poço, mas leva a um lugar de restauração: a cruz!
Em cima do palco eu olhava para dezenas de mulheres traídas. Traídas pela autossuficiência, pelo ego, pelo falso amor, por promessas quebradas e pelo próprio coração. O ápice da representação de Mara foi contar-lhes como ela reaprendeu a viver, como ela superou aquele trauma. Tudo se trata de amor. Perdão reque amor, casamento requer amor, filhos requerem amor...
Mas, o que a Sala de espera lhe ensinou? Nada em sua vida tem haver com seu amor próprio, e sim com o amor que escorreu do corpo de Cristo, morto numa cruz e furado por cravos e espinhos. Aquele amor envolveu dor, e daquele amor fluía a vida.
Mara em minha vida foi um presente de Deus. É duro encarar nossos fracassos. É revoltante trilhar um caminho desconhecido e depender das orientações de um Deus que não revela detalhes dos seus planos a nós. Mas a cruz destrói a nossa revolta e nos torna dependentes do Criador. Ao passar pela cruz, descobri quão prazeroso é permanecer na Sala de Espera da Vida, pois lá eu encontro o sentido de existir!

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