segunda-feira, 31 de outubro de 2011

She's living her own season

Ela ouviu que "Without winter, there's no spring".
Numa sexta-feira a noite, perde o sono. Se vira na cama, liga o notebook e assiste alguns episódios de OTH.
Continua sem sono. Liga a televisão. Desliga a televisão. 
Puxa o cobertor, tenta se enrolar como se construísse um casulo humano. 
O sono não passa, e a única alternativa que resta é pensar.

Pensa nas últimas três semanas, pensa nos sentimentos que nasceram nos últimos anos, no que mudara em seu interior, em quem mais lhe fazia falta. 
Pensa em como não consegue mais controlar aquele líquido que sai de seus olhos, e que ultimamente anda bastante desobediente.
Pensa em como seu coração se pareceria, caso fosse desenhado em papel. 
Talvez, algo bem parecido com vidro espatifado no chão.
Ou um papel rasgado em pedacinhos.
Ou um cubo de gelo.
Ou qualquer coisa que pareça fria e destruída.

De repente, inundada por sentimentos pessimistas, lembra  que "Without winter, there's no spring". E esse é o relato de seus pensamentos:

Uma vida não é feita de primaveras. Muito menos de verões, ou invernos ou outonos. 
Uma vida é feita de quatro estações. 
Acontece que poucas pessoas aceitam a vida como ela é, e se recusam a viver as etapas necessárias para a mudança. 
Sem o verão, o sol não brilharia tão intensamente. Sem o outono, a natureza não teria a oportunidade de ser renovada. Sem o inverno, as raízes das árvores não se esforçariam tanto para ficarem mais fortes. E sem a primavera, a vida não nasceria novamente.

Não existe vida de inverno, ou vida de verão. Não existe amor de primavera, ou amor de outono. Existe vida, e existe amor.
As estações não foram feitas para reduzir a vida a momentos específicos. Elas existem para provar, pela própria natureza, que todos devem passar por todas as etapas. E essa não é uma opção.

Há quem se recuse a viver um inverno, mas ele chegará (cedo ou tarde). E para que a primavera faça novamente nascer a vida, é preciso passar pelo inverno. Essa é a ordem das coisas.

Pessoas se questionam sobre os benefícios do inverno. É simples: ele nos faz sentir falta do calor, ele nos prepara e fortifica para tempestades maiores, ele nos mostra os sentimentos que vivemos negando (e que vem à tona com o frio), e, principalmente, nos faz acreditar que a primavera está perto.

Certa vez, uma pessoa disse que o ato de encolher as pernas e braços para diminuir a sensação de frio, aumenta ainda mais o tempo de espera pelo calor.
A explicação é simples: quando o corpo está relaxado, o sangue flui numa velocidade maior e, assim, aquece o corpo mais rapidamente.

Ou seja: relaxe, aprecie o frio e espere ansiosamente pela primavera.
Ela virá. É inegável.

Então, ela descobriu que gosta desse inverno (ou, pelo menos, de suas vantagens).

Mas, muito além disso... ela descobriu que ama a primavera. 
Ama tanto que está disposta a esperar pelo fim do inverno. E que, quando esse tempo chegar, estará de vestido florido e com o cabelo trançado. Pronta para o nascimento de uma nova vida.

Então... Dormiu. Acordou no outro dia. Ainda era inverno. 
Mas, dessa vez, já não sentia mais o coração como um cubo de gelo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

She's different now

"Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta"
(C.F.A)

Escrever, pra mim, é como se meus dedos assumissem o controle dos meus pensamentos.
Quando vejo, estão ali todos os meus sentimentos, todas as minhas lágrimas, todas as minhas angústias, os meus sorrisos, os pedaços do meu coração. Desenhados em linhas retas, rabiscos, reticências, pontos de interrogação, vírgulas e pontos finais.
Escrever, pra mim, é tirar da cabeça e do coração aquilo que merece ficar no papel pra eu me lembrar depois de como eu mudo a cada segundo.
Escrever, pra mim, é terapêutico.

E como foi triste esse tempo todo de páginas em branco.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

She's gone


Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê, depois de tanto sofrer. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Só demoramos para admitir.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de um "outro você", uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não se esvaziar de sonhos, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo, pra alguém novo..."
Caio F. Abreu (e alguns grifos meus)