segunda-feira, 11 de junho de 2012

Oceano


Explorando as profundezas do Perdão

"Quem não consegue perdoar destrói a ponte sobre a qual terá de passar." (George Herbert)
"Quem é destituído do poder de perdoar não tem poder de amar." (Martin Luther King Jr.)


  Quando vou à praia, percebo que muitas pessoas visitam o litoral, mas não entram na água. Ficam simplesmente deitadas em toalhas e esteiras, assando e dando emprego aos dermatologistas. Outras entram no mar e brincam um pouco, chegando talvez a ficar com a água na cintura, mas nunca se aventuram muito longe da areia. Também existem os que levam a coisa mais a sério. Colocam máscara, pés-de-pato e respirador e, aparentemente, vão até o fundo. Mesmo assim, estão apenas na superfície.
  Eu e minha família gostamos muito de mergulhar e alguns anos atrás fizemos um curso de mergulho. Seja para ver navios naufragados ou tubarões (bem, talvez não tubarões para mim!), gostamos muito de explorar o mundo subaquático que cobre mais de dois terços da superfície da terra. Aprendi logo de início que um mergulhador pode descer com segurança até cerca de quarenta metros. Num primeiro momento isso parece fundo, mas pense um pouco. O lugar mais profundo dos oceanos são as Fossas das Marianas, com quase onze mil metros de profundidade. São onze quilômetros para baixo. E nós podemos mergulhar apenas quarenta metros! Mesmo com submarinos, a maior parte do oceano é profunda e vasta demais para ser explorada.
  O amor de Deus é semelhante. Normalmente brincamos apenas um pouco na superfície, mas Ele oferece um nível completamente diferente de profundidade na vida. Se tivesse apenas um mês para viver, aposto que a maioria das pessoas acabaria aventurando-se em águas mais profundas, percebendo que a única maneira de estar em paz é confessar os pecados e sentir o perdão e a misericórdia que Ele tão gratuitamente nos oferece.
  Os pecados, as falhas e os fracassos não desaparecem sozinhos - ou nós os confessamos, ou os suprimimos. No cotidiano atribulado, é fácil suprimir erros e negá-los. Mas, se tivéssemos o final em vista, perceberíamos que não há como esperar muito mais tempo. A chave para a maneira como vivemos nesta terra resume-se basicamente a como experimentamos o perdão e a como o estendemos a quem está a nosso redor. 


Vale a pena refletir
Se você tivesse apenas um mês para viver, pelo que pediria perdão? A quem? A quem precisaria perdoar?



Abaixo da superfície
Um mergulhador de águas profundas em um traje pressurizado e especialmente planejado pode descer muito mais fundo - cerca de trezentos metros - do que se estivesse usando apenas uma roupa comum e tanques de oxigênio. A Oração do Senhor funciona da mesma maneira. Ela nos permite ir muito mais fundo e, assim, chegar ao cerne do que mais importa: o perdão. Talvez você já a saiba de cor, mas considere a maneira como Jesus a explica:


Vocês, orem assim:
"Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome. 
Venha o teu Reino;
seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. 
Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos aos nossos devedores.
e não nos deixes cair
em tentação, mas livra-nos do mal (...)".
Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai Celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas. 
Mateus 6: 9-15


  Por mais familiar que seja essa passagem, com que frequência realmente consideramos o que estamos orando? Nós realmente queremos que Deus responda à parte em que oramos "Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores"? Quero realmente que Deus me perdoe da mesma maneira como perdôo os outros? Todos nós queremos ser perdoados, mas, quando se trata de perdoar os erros cometidos contra nós, a história é diferente. A ferida que dói, a profundidade da dor, da traição, da decepção - é muito difícil conceder perdão.
  É como tentar ver claramente nas profundezas do mar. Para ver qualquer coisa abaixo da superfície do oceano, você precisa de uma máscara. Para perdoar alguém, é preciso ver abaixo da superfície também. Na superfície não há razão lógica para perdoar alguém que me feriu. Mas quando olho por baixo da superfície, a Bíblia me dá algumas boas razões para perdoar.
  A primeira é que Cristo ordena isso. Se você dedicou a vida a conhecer e seguir a Jesus, sabe que o perdão não é uma ficção. Paulo disse com todas as letras: "Perdoem como o Senhor lhes perdoou" (Cl 3:13). Na Bíblia, o perdão não é uma simples sugestão. Se você quer seguir a Jesus, lembre-se de que perdoar é uma ordem. Por mais difícil e emocionalmente desafiador que seja o perdão, todos nós temos de praticá-lo. Devemos escolher fazê-lo - repetidamente, se necessário. Nossos sentimentos e as consequências das injúrias que sofremos podem permanecer, mas somos ordenados a perdoar por uma simples razão: nossa própria sobrevivência depende disso.
  Se tentar chegar ao fundo do oceano sem traje adequado para esse tipo de mergulho, você não sobreviverá. Quando mais fundo desce, mais pressão seu corpo sente - pois a água, naturalmente, é mais densa que o ar. Se você continuar a descer, sofrerá tanta pressão que seus pulmões entrarão em colapso e seu corpo será esmagado.
  Do mesmo modo, você não vai sobreviver se tentar viver sem perdoar. É essencial que perdoemos para nosso próprio bem; do contrário, vamos nos afogar em amargura. Quando mais fundo você mergulhar no oceano do ressentimento, mais sentirá a pressão e o estresse. Por fim, a pressão ficará tão grande que seus relacionamentos, sua alegria e sua saúde serão esmagados. As pesquisas realizadas nas áreas médica e psicológica revelam que a amargura e o ressentimento têm efeitos devastadores. Achamos que, se nos agarrarmos às nossas feridas, estaremos retribuindo à pessoa que nos feriu. Mas isso só nos causa mais sofrimento. Se quisermos desfrutar a vida plenamente, devemos livrar-nos da amargura.


Vale a pena refletir
Como você tem sentido os resultados da amargura da vida? Quais foram as consequências físicas? Qual o impacto atual da amargura sobre você? De que maneira ela está relacionada a sua habilidade de perdoar e ser perdoado?






Não prenda a respiração
  A regra número um do mergulho é nunca prender a respiração. Os instrutores ensinam isso aos alunos porque, quando estamos em águas profundas e respiramos por meio de um tanque de oxigênio, o ar naturalmente enche os pulmões. Se a pessoa prende a respiração enquanto está subindo para a superfície, o ar se expande, distendendo os pulmões e ferindo a pessoa. Não seria uma experiência agradável sentir seus pulmões explodindo embaixo d'água! É por isso que os instrutores de mergulho constantemente lembram seus alunos que eles nunca devem prender a respiração.
  A regra número um para mergulhar na vida é nunca reter a amargura. Lembre-se de que, na maioria dos casos, não desenvolvemos uma ferida purulenta da noite para o dia. Ela, em geral, começa com uma pequena inflamação que cresce e se transforma numa grande infecção. Muitas vezes os frutos da amargura são plantados com as sementes da ira. "Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não dêem lugar ao Diabo" (Ef 4:26-27). Paulo disse que jamais devemos reter a ira por um período maior que vinte e quatro horas. Por quê? Porque se você permitir que a ir sobreviva por mais de um dia, ela se transforma: a ira se torna amargura. Se não exalar o ressentimento, você acabará explodindo.
  Exalamos a ira e a amargura quando somos honestos sobre nossos sentimentos, tanto em relação aos outros quanto em relação a Deus. Nem sempre gostamos de admitir que estamos feridos, que uma pessoa conseguiu ofender-nos. O orgulho serve de combustível para a dissimulação, embora por dentro estejamos fervendo. Se nossa ira não for trabalhada, ela logo se transformará em amargura maligna. 
  Às vezes, não se trata de sermos feridos por outras pessoas; estamos furiosos com Deus. Pensamos assim: "Deus, estou irado com o Senhor por ter permitido isso. O Senhor poderia ter impedido isso porque é todo-poderoso, mas o Senhor deixou acontecer e, assim, em última análise, o Senhor é o responsável". Então, suprimimos nossos sentimentos porque pensamos que não devemos ficar irados com Deus. Mas Deus é suficientemente grande para lidar com nossa ira! Além do mais, de qualquer maneira, ele sabe que estamos bravos com ele. Eu costumava achar que, se admitisse que estava irado com Deus, ele provavelmente me atingiria com um raio. Ele não faz isso. Ele nos ama da maneira como somos, e quer que derramemos nosso coração diante dele, que admitamos nossos sentimentos e digamos: "Deus, estou bravo. Estou irado. Estou irritado com isso. Por que o Senhor permitiu essas coisas? Não entendo".
  Precisamos expressar nossos sentimentos a Deus e orar dizendo: "Deus, confio que o Senhor sabe o que é melhor. O Senhor sabe que estou muito bravo e, portanto, perdoe-me e ajude-me a me curar". Quando você faz isso, o processo de cura se inicia. Foi isso o que aconteceu na vida de Davi. Em Salmos 32:5 ele disse: "Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: Confessarei as minhas transgressões ao Senhor, e tu me perdoaste a culpa do meu pecado". Quando revelo meu coração a Deus, a cura se inicia. exalo a amargura e, então, posso inspirar o perdão.
  Não sentimos vontade de perdoar as pessoas que nos magoam, mas tudo bem. O perdão não tem nada a ver com o que sentimos. Perdoamos porque tomamos uma decisão consciente e dizemos a Deus: "Eu perdoarei essa pessoa por meio do teu poder, Senhor, porque o Senhor me ordenou isso e porque isso é para meu próprio bem". Então, cinco minutos depois, quando a ferida retornar à mente, podemos repetir essa oração quantas vezes for necessário. Alguém observou certa vez, com muita sabedoria, que perdoar é libertar um prisioneiro e, então, descobrir que o prisioneiro era você.
  Deus diz que você precisa perdoar para seu próprio bem, porque a amargura bloqueia a bênção que ele deseja derramar sobre sua vida. Se você se abrir para Deus ao perdoar e orar por aqueles que o feriram, as bênçãos fluirão novamente. A cura de sua alma começa a acontecer. Jesus foi nosso maior exemplo de alguém que respira perdão. Em um de seus últimos suspiros na cruz, ele orou dizendo: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo" (Lc 23:34). E daí que vem o poder para perdoar - da percepção de que recebemos o perdão primeiro, por meio do sacrifício de Cristo na cruz.






Solte a âncora
Ninguém dá aquilo que não recebe. Sabemos que recebemos perdão, mas não entendemos de fato a profundidade da misericórdia de Deus, o que dificulta o ato de perdoar outras pessoas. Se eu conseguir entender um pouco como Cristo me perdoou, será muito mais fácil perdoar os outros que me feriram.
  Quando não pedimos nem abraçamos o perdão que tão livremente nos é dado, começamos a afundar. Pense nisso - nossos erros, pecados e fracassos do passado - como uma grande âncora que nos puxa para baixo. Algumas pessoas estão de tal modo acostumadas a arrastar essa âncora de culpa atrás de si que dificilmente se lembram que ela existe. Todavia, seus efeitos são devastadores - ansiedade, depressão, insônia, hipertensão e úlceras. A culpa pode envenenar todas as áreas de sua vida.
  A boa notícia é que, por causa do presente de Deus, você não tem de arrastar por aí a âncora da culpa que o leva para baixo."De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Mq 7:19). Quando você leva sua âncora de culpa a Deus, ele a remove de você e a lança no mais profundo oceano de seu perdão.
  Enquanto não sentir a plenitude da graça e do perdão de Deus, você nunca será capaz de perdoar plenamente os outros. Nunca estará em paz nem perceberá o que ele tem para você e para sua vida. Nunca sentirá as bênçãos que ele deseja derramar sobre você. Perdoar não é fingir que você não foi de fato magoado, não é suavizar a ofensa. Perdoar não é uma experiência rasa; significa mergulhar fundo na honestidade e verdadeiramente dizer: "O que você fez me magoou profundamente, mas escolhi perdoá-lo pelo poder de Deus".
  Perdoar de fato é como nadar em um oceano muito profundo, como jamais poderíamos imaginar. Significa sentir uma onda de amor que lava nossos pecados, nossa culpa e nossa amargura. Se tivesse apenas um mês para viver, você não gostaria de ser levado para além das águas rasas, na direção do profundo oceano purificador do perdão?




Para a vida toda


1. Faça uma lista das pessoas que você precisa perdoar. Escreva a ofensa - aquilo que elas fizeram que o magoou - ao lado no nome da pessoa. Depois faça uma lista de todas as pessoas a quem você precisa pedir perdão. Ao lado de cada nome, descreva resumidamente como você a feriu. Finalmente, passe um tempo em confissão diante de Deus. Peça que o poder de Cristo o lave, banhando-o com o perdão de Deus que capacita a perdoar os outros.2. Escreva uma carta a Deus e derrame tudo sobre ele. Fale de tudo aquilo que o tem deixado irado, tudo o que você guarda contra ele, bem como todas as coisas com as quais está preocupado. Seja honesto e confie que ele saberá lidar com qualquer coisa - tudo mesmo - que você despejar sobre ele, por mais sombria, desesperada ou questionadora que seja. Então, peça que ele cure seu coração enquanto você rasga a carta.3. Escolha uma linda fotografia, uma concha ou outra coisa que represente um oceano. Coloque-a num lugar de destaque como lembrete para pedir a Deus seu perdão e perdoar diariamente aqueles que estão a sua volta.



Capítulo 10 do livro "Um mês para Viver"

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