segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma redação que me fez pensar muito

Minha escritora favorita, Clarice Lispector, disse que a palavra é o meu domínio
sobre o mundo. E foi assim que eu descobri que queria ser escritora. Depois de ter
tido ambições bobas e passageiras de cursar odontologia, pediatria, fisioterapia e
gastronomia, descobri que Jornalismo seria o melhor caminho que me levaria a escrever
bons textos. Contar histórias é o que eu quero pra mim.
Foi assim que eu escolhi esta profissão. Mas, o que mais me surpreendeu ao
longo do curso foi exatamente a quantidade de opções que possuo para contar uma
história. Posso narrar, posso deixar subentendido, posso mostrar com fotografia, posso
deixar uma diagramação falar por mim, posso criticar, ousar, desconfiar e até inventar.
O jornalismo tem isso sim. Tem muita gente que inventa. Dessa forma, eu descobri
como eu queria contar as histórias que chegavam até mim.
Ensinaram-nos que jornalista “tem que ser” imparcial, tem que relatar os fatos
exatamente como eles são. E foi aí que eu descobri que a imparcialidade possui limites
bem estreitos, pois cada indivíduo que ouve ou presencia um fato vai interpretá-lo da
forma como bem entender. Uma mesma história tem milhões de versões diferentes,
tem muitos “outros lados”. Desde então, resolvi direcionar minhas interpretações
para um único sentido: contar as coisas como elas são, envolvendo o mínimo que eu
pudesse de minhas crenças e convicções. Só assim eu poderia chegar próximo a uma
imparcialidade (inexistente, diga-se de passagem). Assim, criei meu próprio estilo de
escrever e minha forma de exercer a profissão.
Mas, além disso tudo, também descobri a jornalista que eu não quero ser.
Comecei a vivenciar o estresse em que essa profissão é envolvida. Para ser mais clara,
não quero dizer que a vida seja fácil e sem lutas mas, o que a maioria dos jornalistas
vive, é tudo o que eu não quero pra mim. Pode ser decorrente da minha personalidade,
porém não acredito que minha realização profissional possa ser baseada em viver,
morrer e fazer ressuscitar (se preciso), pelo meu trabalho.
Sim, eu vou lutar e vou me esforçar para cumprir deveres, mas simplesmente
descobri que não quero ser escrava do trabalho como muitos jornalistas são hoje em
dia (e não os condeno por isso). Só não quero passar mais tempo em uma redação, do
que com minha família. Não quero perder amizades, pelo bem de uma pauta polêmica.
Não quero renegar meus desejos para me submeter a princípios que vão contra a
minha índole. Eu quero uma profissão que me dê prazer em ser eu mesma, e que
me proporcione realização pessoal por fazer o que amo, e não simplesmente ganhar
dinheiro e boa fama. Acredito verdadeiramente que posso ser quem eu sempre quis,
através do jornalismo.
Alguém que busca constantemente a verdade pode nem sempre alcançar seu
objetivo. Mas, um bom profissional é movido por fortes ideais, mesmo que não consiga
a imparcialidade. O importante é ser fiel aos fatos e deixar de lado as críticas pessoais e
opiniões próprias. Essa é a jornalista que eu quero ser.

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